Senador do PSDB estava afastado do mandato desde 18 de maio, por decisão
de Edson Fachin. Tucano discursou por mais de 20 minutos, criticou delação e
foi aplaudido por senadores.
Por
Gustavo Garcia, G1, Brasília
O
senador Aécio Neves (PSDB-MG) durante discurso após retorno ao Senado (Foto:
Jefferson Rudy/Agência Senado)
O senador Aécio
Neves (PSDB-MG) subiu à tribuna do Senado nesta terça-feira (3) para se
defender das acusações do Ministério Público Federal contra ele. Durante o
pronunciamento, que durou mais de 20 minutos, o tucano afirmou que não cometeu
crimes, se disse indignado com o que chamou de "injustiça" e afirmou
que foi condenado previamente sem chance de defesa.
Aécio retornou ao Senado
nesta terça, após mais de um mês afastado das atividades
parlamentares por ordem do Supremo Tribunal Federal. O
afastamento foi derrubado no último dia 30 de junho pelo ministro Marco
Aurélio Mello.
"Inicio
este pronunciamento dizendo que retorno à tribuna com um conjunto de
sentimentos que podem parecer contraditórios, mas retratam a profundidade das
marcas que o episódio de afastamento do mandato deixou, não apenas em mim, mas
em minha família e em todos aqueles que acompanham meus mais de 30 anos de vida
pública", disse Aécio em plenário.
"Dentre
todos esses sentimentos, está a indignação com a injustiça", complementou.
Afastamento
Aécio estava afastado
desde o dia 18 de maio, por decisão do ministro Edson Fachin, do
Supremo Tribunal Federal, com base na delação de executivos da JBS. Segundo o
Ministério Público, Aécio solicitou e recebeu do empresário Joesley Batista R$
2 milhões que seriam utilizados para pagar seus advogados em inquéritos da Lava
Jato. Em troca, Aécio atuaria em favor da JBS no Congresso Nacional.
Além disso,
Fachin entendeu, com base nas investigações do Ministério Público, que, em
razão do mandato, Aécio poderia usar seu poder para atrapalhar as investigações
da Lava Jato.
Com base nas
delações, Aécio já foi denunciado
pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, por corrupção
passiva e obstrução de Justiça.
Mesmo
denunciado, ele retornou ao Senado nesta terça, após o ministro Marco
Aurélo Mello derrubar o afastamento, em 30 de junho. Na decisão,
o ministro contestou os argumentos da Procuradoria Geral da República de que
Aécio usaria o poder do cargo para interferir nas investigações.
O ministro
também considerou que o afastamento do senador era uma medida que colocava em
risco a harmonia entre os poderes Legislativo e Judiciário.
Além do afastamento,
a PGR pediu a prisão de
Aécio, mas o pedido também foi negado por Marco Aurélio Mello.
Nesta terça, ao
falar sobre o caso, Aécio Neves disse que jamais recebeu vantagens financeiras
através da vida pública e que nunca tentou obstruir a justiça, como o acusaram.
O senador também criticou o que chamou de "julgamentos apressados",
mas disse que não "guarda mágoas".
"Fui condenado
previamente sem nenhuma chance de defesa. Tentaram execrar-me junto à opinião
pública. Fui vitima da manipulação de alguns, da má-fé de muitos e, sobretudo,
de julgamentos apressados, alguns feitos aqui mesmo nesta Casa. Por alguns
poucos que parecem nao se preocupar com a preservação dos direitos
constitucionais e com o primado de nossa Constituição", afirmou.
Após o
discurso, Aécio foi aplaudido pelos senadores que acompanhavam a sessão. Ele
foi ao encontro dos demais parlamentares e foi cumprimentado.
Após
discurso, Aécio é cumprimentado por senadores no plenário
'Acusações'
Durante o
pronunciamento, Aécio citou o que chamou de “três principais acusações” que
pesam contra ele e que levaram o Ministério Público a pedir seu afastamento do
Senado.
O primeiro fato
citado por Aécio foi a defesa que Aécio fez em conversa, “criminosamente
gravada”, que deveria ser aprovada uma nova lei de abuso de autoridade. O
projeto foi aprovado pelo Senado.
Ele também
citou a defesa que fez da proposta que criminaliza a prática de caixa dois e
que, se aprovada, poderia servir para anistiar os políticos que se beneficiaram
das doações não-oficiais.
“Nada mais do
que a legítima opinião de um parlamentar no livre exercício de seu mandato”,
disse Aécio.
O parlamentar
citou ainda as críticas que fez, em conversas gravadas, ao funcionamento do
Ministério da Justiça, pasta a que a Polícia Federal é subordinada.
“Esse conjunto
de manifestações foi interpretado como tentativa de obstrução de Justiça. Nada
mais distante da realidade”, afirmou.
Aécio disse que
sempre defendeu a Operação Lava Jato, apesar de ser contrário a algumas
condutas daqueles que lideram as investigações.
“Jamais
interferi em nenhum órgão envolvido nas investigações, embora entenda que
existam reparos a serem feitos na atuação de alguns de seus membros”, declarou.
Assim como tem
feito desde que o caso veio à tona, Aécio afirmou aos colegas que "errou"
ao ter escutado um "criminoso", que o envolveu em uma "trama
ardilosa".
"Eu quero,
desta tribuna, dizer que eu errei. E assumo aqui esse erro. Em primeiro lugar,
por me deixar envolver nessa trama ardilosa e principalmente ao permitir que
meus familiares servissem de massa de manobra para atender aos propósitos
espúrios daqueles que, por absoluta ausência de caráter, não se constrangeram a
honra e a vida de pessoas de bem aos seus nefastos interesses", criticou.
Apoio a Temer
Ainda durante o
pronunciamento, Aécio falou sobre o apoio do PSDB ao presidente Michel Temer e
ressaltou a aprovação de projetos “importantes”, como o que estabeleceu o teto
de gastos públicos, e a reforma do ensino médio.
Parte do
partido, a parcela formada por tucanos mais jovens, porém, defende a saída da
legenda da base governista em razão da denúncia de corrupção passiva por parte
de Temer.
Segundo a colunista do G1 Andreia
Sadi, interlocutores do presidente Michel Temer sinalizaram aos
tucanos que podem apoiar um candidato do partido na eleição de 2018 e poderiam
atuar no Conselho de Ética para salvar o mandato de Aécio.
Um pedido de
cassação contra o senador tucano foi arquivado pelo presidente do conselho,
senador João Alberto (PMDB-MA), mas há um recurso.
“Quero aqui
reafirmar, neste instante, meu compromisso e minha crença na necessidade de
continuarmos avançando em uma ousada agenda de reformas, que, aliás, foi a
razão do apoio do PSDB ao presidente Michel Temer”, disse.
“Fui eu,
inclusive, quem, na condição de presidente do partido e credenciado por cada um
dos meus companheiros, condicionou o nosso apoio ao cumprimento dessa agenda
que, devemos reconhecer, apesar de todas as adversidades, continua sendo
liderada pelo presidente”, acrescentou Aécio.
Postar um comentário
Blog do Paixão